Zonzo
Ana Júlia Vilela, Daniel Higa, Eduarda Freire, Mariano Barone, Santiago Pooter
Galeria Prego
2019
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Zonzo
O cotidiano torna o trajeto entre dois pontos automático, desinteressante. O olhar se acostuma
com a paisagem e mesmo a mudança dela pode passar despercebida. Para identificar essas
nuances, é preciso estar em um estado de consciência específico, quase hipnótico. A expressão
italiana “andare a Zonzo”, relembrada por Francesco Careri, sumariza a maneira que os Flanêurs,
os Dadás, os Surrealistas e a Internacional Situacionista encontraram de atingir esse estado: é
preciso perder tempo vagando sem objetivo. Mais do que isso, é preciso que o caminhar desvele
as zonas inconscientes da cidade.
Esse tirar de véus parte, em todos os artistas de Zonzo, de um raciocício muito explícito no
trabalho de Eduarda Freire (Rio de Janeiro, RJ). A deambulação entre seus trajetos cotidianos é
constantemente bombardeada por informações simbólicas que, ao olhar desavisado, são apenas
parte de um todo. O olhar atento do artista que flana, entretanto, consegue ler a cidade como
um texto e, a partir desse texto, destacar estes estímulos. Ao demarcar a área que delimita os
seus Readymades, Eduarda isola o seu trabalho do entorno, destacando-o em relação aos outros
estímulos presentes no mesmo espaço e convidando aos outros caminhantes a olharem para esse
“objeto mágico” da mesma maneira que ela o olha. Os dois registros expostos são complementados
por um QR CODE linkado diretamente a um mapa online, convidando o traunseunte a vivenciar
esses Readymades já reconfigurados pela cidade.
Dessa mesma forma, Santiago Pooter (Porto Alegre, RS) descama os cartazes do corpo da cidade.
O isolamento do contexto inicial e a proposição de um deslocamento entre a rua e o espaço
expositivo explicítam as camadas sobrepostas pelo acúmulo dos cartazes através do tempo.
São camadas e camadas destes passados que operam na lógica de uma cidade que não está
acostumada com a permanência das imagens em seus espaços. Estamos mais habituados com a
mudança destes estímulos do que a própria permanência deles.
Tal mudança constante cria uma espécie de retrogosto no processo de elaboração da instalação
de Mariano Barone (Santa Fe, AR). Em Paradise Remisses, a sobreposição das lonas esticadas
sobre os três cabos de aço, remetem a uma nova configuração das paisagens urbanas. No seu
instagram, as coletâneas “Surtidão Avulso” (séries de fotos da cidade que operam como livros-de-
artista online) evidenciam essa origem do tabalho.
Em Product Of America, Daniel Higa (São Paulo, SP) torna visível o deslocamento através de um
objeto estático. A dobra das sacolas plásticas destaca a impressão da procedência do produto
embalado, que já é impresso de uma maneira que parece querer comprovar uma suposta
superioridade de origem. Posicionado no chão, como um tapete, entretanto, é possível passar por
cima dessa superioridade impressa.
Sampacity, por fim, é um ode à esse processo de desconstrução e reconstrução da ilusão da
cidade. Ana Júlia Vilela (Belo Horizonte, MG) expõe no vídeo originalmente publicado no Youtube
o processo de leitura dos estímulos ao caminhar por São Paulo. É a Flanérie numa megalópole
na era digital, onde as ruas são menos convidativas que o celular e os problemas cotidianos. No
vídeo, é possível compreender o fluxo de consciência causado pela hipnose de São Paulo - ou
qualquer outro espaço urbano.
Vendo além da ilusão da cidade, os cinco artistas, ao flanar, se transformam no prórpio ilusionista:
trasformam os símbolos em novos significantes, reconfigurando a própria paisagem. Em Zonzo,
o panorama da cidade é um convite a vivenciar essaa ilusão, a caminhar desatento, mesmo com
destino.
Zonzo
Soon