À Luz da Tela



Pablo Brazil

Andrea Rehder 
Arte Contemporânea

2023
































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À luz da tela

Alguns pintores sempre tentam nos lembrar que a pintura é feita de tinta e que essa tinta é matéria que sai diretamente de tubos de zinco. Para isso, evidenciam a superfície acumulada de gestualidade marcada pelas pinceladas e camadas que saltam a planaridade da tela. Outros, ainda que conscientes dessa composição física da pintura e a posição dela como tinta sobre a tela, nos evidenciam que, além de tinta e gesto, a pintura também é luz. Em "À luz da tela", Pablo Brazil apresenta sua produção recente. Inspirado pelas imagens de um imaginário queer, acessado através das telas dos computadores e celulares, é possível entender que essa luz, para o artista, é tanto brilho do LCD quanto pintura. 

Mesmo ciente de que a sua obra seja pigmento, fatura e tinta óleo, é sobre essa luz, entretanto, que a sua produção se desenvolve. O brilho rosa do underpainting que ressurge por trás dos corpos azulados é um dos momentos em que isso fica bastante evidente. É uma luz que se contrapõe aos corpos languidos, por vezes distorcidos, azulados de forma melancólica. 

 Estes Davids escultóricos transmitem uma certa angústia, um desespero apático. São corpos que fazem uma alusão a um tipo de sedução da própria tristeza. Uma interface de acesso ao mundo através de sentimentos melancólicos, encontrando, a partir deles, uma maneira potência de vida. Ao mesmo tempo, a cada segundo que observamos esses corpos, percebemos mais a luz azul que os ilumina e o rosa que em rasgos aparece. Quando menos se espera, a cor do fundo escapa, reanima e dá brilho a esse rebaixamento. Cada vez mais vemos menos os corpos. Predomina a luz que emana do pigmento. 

As abstrações de cor são indícios ainda mais claros desse interesse do artista. Operam exclusivamente como uma fonte de luminosidade. Ainda que pura cor, são um tanto dessaturadas. Essa luminosidade mais baixa se deve ao controle que Pablo tem da tinta e como ela é colocada na tela. É como se Pablo tocasse no vidro de um monitor e distorcesse os raios RGB que se adicionam em luz branca, decidindo a imagem que é formada. 

Os caminhos que levam Pablo a pintar sobre essa luz são acessíveis a todos nós. Na ponta dos dedos, o reflexo do LCD das telas dos celulares e  a luminosidade da tela do computador que toca o nosso rosto no quarto escuro são indícios físicos dessa luz. Ainda assim, se alguém tentar fotografar o próprio corpo embebido do azul de uma tela fora de sintonia, o resultado não se aproximaria de forma alguma a representação subjetiva de Pablo. 

Nessa comparação hipotética, é que surge uma tomada de consciência. A pintura de Pablo não é só luz. É tinta, fatura, cor, intenção. A luz que toca a tela é cada vez mais luz. É cada vez mais tinta. É cada vez mais pintura.



















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