O que a pessoa deve fazer quando descobre que veio ao mundo para nada?



Ana Júlia Vilela

Texto escrito para o catálogo portfólio da artista na Central Galeri























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Há uma melancolia na pintura de Ana Júlia Vilela que me leva a alguns lugares que nem sempre eu lembro que existem. A série de piscinas, meu primeiro contato com o trabalho da artista, já despertava em mim uma nostalgia estranha. O vazio da forma, o peso das cores, trazem à tona essa memória quase já esquecida, como se fosse preciso se esforçar para lembrar de tudo. As pessoas já não importam mais naqueles lugares, só resta esse gosto amargo no fundo da garganta de um verão que já passou e que não volta. 

A morte de uma festa




A própria fatura em suas pinturas já evidenciam esse processo de recordar, de desvelamento de uma memória perdida. As camadas de cores revelam esses pedaços de sensações, escondem o que não deve ser lembrado. Tanto os dinossauros quanto as piscinas acabam, por fim, funcionando menos como figura, e mais como forma. São monumentos de cor e fatura, que apontam sempre para esse lugar de nostalgia que todos conhecemos. Quando raspado, o desenho que descobre a tinta mostra a vontade que Ana tem de trazer isso tudo à tona.
Sem título, 2019. Óleo sobre tela. 45 x 30 cm.



Quando eu me toquei que a rua da consolação se chamava rua da consolação por causa do cemitério da consolação... foi tudo muito louco. Mas enfim,



É difícil fugir desse sentimento, porque é justamente sobre isso que Ana Júlia pinta. É sobre esse querer retornar a algo que não existe mais. Os cemitérios são muito diretos nesse sentido. Talvez seja para não querer perder esses momentos que Ana sempre nos lembra que eles acabam e vão embora.

É como voltar de ônibus depois de uma festa sem ter beijado ninguém. A maquiagem borrada, a comanda paga com medo do cartão não passar, o leve arrependimento de ter que almoçar miojo no outro dia por ter gasto demais, mas ainda sim não se arrepender de ter saído de casa (pelo menos até agora).
Eu não quero mais morrer.



Tudo isso é resultado de um trabalho de ateliê rigoroso. É sobre pintar diariamente, até que a pintura canse a própria artista. E esse comprometimento é notável na produção da artista, que acontece de uma maneira natural, instintiva.

No fim, a Ana sabe muito bem para o que veio ao mundo. Quando olho para as suas pinturas, também não tenho nenhuma dúvida.

Sincerely,
Chico Soll



 

















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