À Luz da Tela - Pablo Brazil


Andréa Rehder Arte Contemporânea - São Paulo, SP
agosto de 2022



Os tubos de alumínio, além de fonte da tinta que se acumula na superfície da tela e é marcada por gestualidade, também dão vazão a um tipo luminosidade específico. Pablo Brazil, ciente disso, apresenta em "À Luz da Tela" sua produção recente, inspirado pelas imagens de um imaginário queer acessado através das telas dos computadores e celulares. É possível entender que essa luz, para Pablo, é tanto brilho do LCD quanto pintura.

Em suas obras, corpos lânguidos por vezes um tanto distorcidos e azulados de forma melancólica são contrapostos por um brilho marcante. O rosa neon do underpainting ressurge por trás de uma fatura azulada que dá forma as figuras de corpos, marcados pelo contraste de linhas escuras com o fundo. Quando menos se espera, a cor escapa, reanima e dá brilho a esse rebaixamento do azul. Em "Eyes without a face", esse interesse do artista fica bastante evidente. Cada vez mais vemos menos os corpos, predomina a luz que emana do pigmento.

Estes corpos nus, como os das pinturas "Sonho Elétrico", "Drink Before the War" e "Cheers for fears", permitem uma aproximação ao corpo escultórico de David e nos transmitem uma certa angústia, um desespero apático. Aludem a uma possível sedução da própria tristeza que pode, ao mesmo tempo, operar como uma potência de vida - uma interface de acesso ao mundo através de sentimentos melancólicos. Ficar na presença desses corpos é perceber a luz azul que os ilumina e o rosa que em rasgos por vezes aparece.

As abstrações de cor de "Spectrum 1" e "Spectrum 3" são indícios ainda mais claros desse interesse do artista. Ainda que pura cor, entretanto, são um tanto dessaturadas. Essa luminosidade mais baixa se deve ao controle que Pablo tem da tinta e como ela é colocada na tela. É como se Pablo tocasse no vidro de um monitor e distorcesse os raios RGB que se adicionam em luz branca, decidindo a imagem que é formada. O que sai dos tubos não é mais apenas pigmento e médium, é pura luz.

Os caminhos que levam Pablo a pintar são acessíveis a todos nós. Ainda assim, se alguém tentar fotografar o próprio corpo embebido do azul de uma tela fora de sintonia, como o das pinturas "Carol Anne they are here 1, 2 e 3", o resultado não se aproximaria de forma alguma à representação subjetiva de Pablo.

Na projeção dessa luz sobre a pintura "OA-8E" é que surge uma tomada de consciência: a pintura de Pablo não é só luz. É tinta, fatura, cor, intenção. A luz que toca a tela é cada vez mais luz. É cada vez mais tinta. É cada vez mais pintura.


Chico Soll,
Agosto, 2022