A Marcha



Paulo Lange


english below soon


O Paulo Lange desenha. Desenha instintivamente, antes mesmo de entender completamente a que serve o seu desenho. Desenha compulsivamente, a todo instante. Seus cadernos são repletos de escritos interrompidos por retratos de amigos, cenas de um cotidiano. Apercebenças que quase escapam aos olhos, mas percorrem os dedos até a ponta do carvão tocar o papel. Além de desenhar, Paulo pensa muito. Não só no sentido filosófico amplo, também em um sentido de acabar obcecado pelo próprio pensamento. Entre o pensamento e o mundo, o Paulo desenha.

Ritmados, constantes, obsessivos, marcantes. Traços a busca de um padrão, de um sentido, da criação de uma melodia para seu pensamento. A marcha. Uma marcha, na música, é o ritmo que regula o passo militar. A este militarismo pouco nos importa além do entendimento que a marcha organiza o dissonante, coloca em compasso, torna um só. É difícil imaginar o Paulo marchando. É impossível imaginar o Paulo sem o desenho.

Os desenhos aqui apresentados tem algumas constantes que os colocam em um mesmo ritmo. Além do marcante traço, o próprio fazer-desenho de Paulo, outros elementos podem ser percebidos. O cavalo, outrora principal obsessão, aparece agora quase escondido. A perceber entre as outras formas. É a estampa da flâmula, a tatuagem sendo traçada, o broche na camisa e o giz no quadro negro sendo apagado. Situações em que o desenho dentro do próprio desenho se faz o que é: desenho. Recordam a marcha dos cavalos de série homônima a essa exposição, que na própria repetição se reorganizam, se misturam, se tornam outras coisas além do cavalo e do desenho.

Os traços são feitos sobrepostos a páginas amareladas retiradas de publicações antigas. As músicas impressas nas partituras são recompostas no reorganizar do pensamento que se torna folha. É um texto que se mistura e vira outro, algo além do ruído que se fazem parecer. São representação do pensamento constante e obsessivo de Paulo. Tudo ao mesmo tempo. O desenho em cima de tudo, na última camada. Agora. A linha que une as páginas termina na imagem que nos engloba.

Esse meta-desenho é o próprio pensamento do Paulo, que coloca as coisas dentro de outras até que elas sejam grandes demais. Grandes em tamanho, como esses desenhos, grandes em pensamento, como tudo que Paulo tenta organizar na própria cabeça.

A marcha de Paulo não é a que com a batida dos tambores e das botas engraxadas que organizam o passo de muitos militares que pensam pouco. A marcha de Paulo é o desenho que ao traçar linhas no papel, termina em imagem. Esse ritmo dos traços nos permite acessar essas obsessões, entender o que ele tenta nos dizer e a fala não acompanha o raciocínio.

O desenho de Paulo é a Marcha que nos convida a caminhar junto dele.

















Soon


Soon