Ruína – Bruno Éder


Galeria Ecarta - Porto Alegre, RS.
março de 2022



A partir da deriva, Bruno Éder (1996) coleta do urbano os processos de mudança de sua paisagem. Nesse exercício, o artista descobre não-lugares que ganham este título pelo antagonismo de uma cidade projetada para afastar e inibir as pessoas. Os muros altos, as cercas pontiagudas, os bancos inclinados que causam desconforto e os paralelepípedos incrustados sob as pontes são artifícios dessa arquitetura hostil. Se a cidade não foi projetada para as pessoas, ela foi feita para quem?


A agressividade dessas ações opera, então, como um gatilho para a produção do artista, que explora no objeto, na pintura e na escultura, as camadas escondidas pelo concreto cinza e suas lanças afiadas. Esses símbolos da opressão da cidade surgem como os elementos que configuram a sua poética. Em "Prestígio a decadência", as grades são representadas na repetição do fio da lança vazada. As camadas de tinta sobrepõe o betume, a colagem e o desenho, revelando que há fragmentos ainda a serem descobertos por trás dessa arquitetura defensiva. Essa mesma repetição está presente em "Bum Bum Free", onde a apropriação dos restos de uma empresa de recorte à laser torna o perigo iminente da forma impossível de não ser presenciado.


O processo de apropriação de objetos descartados nas ruas também se vê em "Ato", onde a própria deriva coloca o artista em um jogo de palavras cruzadas; na presença de colagem em suas pinturas e no acúmulo de objetos embutidos em camadas das obras "Lavabo" e "Sem título (1)". É a tirania expressa pela materialidade: o aço, o alumínio, o betume, o concreto.


"Sem título (2)", a única figura humana da mostra, um rosto em desespero é pressionado por uma mão sem corpo. Na peça de cerâmica com queima Raku, opressor e oprimido se misturam. No fim, a arquitetura hostil não distingue a quem se direciona. Ao mesmo tempo, entretanto, em "Coexistir", o equilíbrio entre as duas peças de concreto, unidas pelo aço, denota ainda uma possível fragilidade nessas estruturas.


Assim, Bruno nos apresenta o resquício de uma cidade que já quis ser cidade, mas agora é ruína.


Chico Soll
Outubro de 2019