Lento Crepúsculo - Aleta Valente, André Severo, Andressa Cantergiani, Berna Reale, Bill Maynard, Carlos Krauz, Carmela Gross, Coletivo Habitantes, Giselle Beiguelma, Guilherme Dable, Intransferível, Ivan Grilo, Letícia Arais Lope, Marion Velasco e Adauany Zimovski, Martin Dahlström Heuse, Leopoldo Plentz, Nicolas Maigret, Regina Silveira, Romy Poc, Talita Menezes, Tyrell Spencer.


Pinacoteca Rubem Berta e Pinacoteca Aldo Locatelli - Porto Alegre, RS.
Dezembro de 2018 a Janeiro de 2019.



“É dramático o caso daqueles que perdem bruscamente a visão: se trata de uma interrupção, de um eclipse; entretanto, no meu caso, esse lento crepúsculo começou quando comecei a ver.” (Jorge Luís Borges)

    A metáfora que o escritor argentino Jorge Luís Borges utilizou para descrever o processo de sua cegueira tem um significado semelhante para esta exposição. Entretanto, ao contrário do escritor, nossa cegueira é catalisada por um mundo caótico e ubíquo; abundante de imagens, de estímulos, de informações, de discursos, de crises e de sentimentos.
   
O Lento Crepúsculo é sobre a capacidade de enxergar e sentir o mundo, de como lidamos com as pressões e excessos que transbordam em nossa vida e se tornam invisíveis, normalizados e negligenciados. Para nós, cabe investigar a metáfora por trás dessa cegueira lenta e gradual, e dos riscos de ignorar as pressões e os excessos do mundo.

Nos deparamos diariamente com uma espécie de saturação generalizada: a informação é tão excessiva que já não conseguimos mais diferenciá-la; produzimos muito mais do que consumimos e a marca humana no planeta já é irreversível; utilizamos a liberdade da expressão sem fronteiras para propagarmos também o ódio sem limites; abrimos a torneira e deixamos a fonte esgotar.

São tantos recursos para estar perto do que se está longe e tantos outros para nos afastar do que está diante de nós. Nunca tanta gente falou tanto, mas será que tem alguém enxergando? E, se está vendo, alguém realmente está compreendendo o que os outros têm a dizer?

É preciso descobrir se as imagens ainda servem para nos confrontar com os fatos e produzir empatia ou se elas nos entregam as maravilhas e os horrores do mundo sem que seja preciso vivê-los. E assim, chegamos em um estado onde enxergamos mas não vemos, sentimos os vultos mas não reagimos. Há quem diga que a hora já passou, mas passou mesmo?

Chico Soll, Fernanda Medeiros e Gabriel Cevallos
Porto Alegre, 04 de dezembro de 2018