Atlas Nº4: Não sou legal, tô te dando mole - Anália Moraes, Lucca Saad, Mariano Barone, Maria Livman, Mari Ra, Marina Borges e Marina Woisky


Massapê Projetos - São Paulo, SP
março de 2022



Atlas - o titã que carregava o mundo nas costas - deu origem ao nome de um tipo específico de publicação: o conjunto de cartografias, mapas, territórios. O termo, já desterritorializado de seu significado inicial, hoje pode representar qualquer organização de imagens em conformidade com uma temática central: atlas geográfico, atlas de anatomia, atlas de memórias… A série de exposições "Atlas" (2018 - ) parte de um argumento inicial de organização e visualização de uma coleção de trabalhos de arte a partir do encontro entre eles, cuja linha conceitual é desenvolvida a posteriori. O que nos interessa é ser nômades: observar estes trabalhos juntos e percorrer a partir deles outros territórios.

A 4ª edição do projeto "Atlas" surge do enfrentamento da produção de sete artistas que, espontaneamente, sentiram que elaboram raciocínios apontando a uma mesma direção. A partir de conversas informais entre os artistas e pontos de contatos das suas produções, se explicita na exposição a relação de uma sensorialidade tátil.

O toque, o passar de dedos superficialmente na pele, o encontro de olhares, o mostrar o suficiente para provocar, deixar-se ver. Insinuações discretas de interesses, pequenos rituais de sedução. Interação sutil, ainda que cheia de segundas intenções. É inevitável não pensar no corpo. A pele é tanto a textura quanto o convite visual ao toque.

O desenho riscado no esmalte, a unha que percorre a pele. O látex, inorgânico e ainda assim frágil. A impressão pesada do corpo no gesso, o gesto leve no óleo - quase sem marcas da fatura. A pele também marca, arranha, imprime as dobras do tecido pelo peso do corpo.

Toda a sensação evidenciada pelas obras aqui presentes é sempre múltipla, têm diversas camadas de percepção. A primeira delas pode ser o contato dessas materialidades dentro de uma mitologia própria de cada artista. Tal camada é a construção de um significado que já é sensorial por si só, dentro do seu próprio sistema. A segunda camada nos propõe um convite: a extremidade tátil, quase ao alcance da mão, é própria do toque ou da visão e da visualidade? Será que o que se sente ao olhar para a obra, é a mesma que se sentiria caso a tocasse?

Por fim, há uma terceira camada háptica: entre os trabalhos, como se dá esse toque? Será que a forma tridimensional, envolta no látex ou tecido, resultaria em um corpo definido? Se a boca tocasse o gesso, teria gosto de quê? Se não foi a unha que riscou o esmalte branco, o que foi?
Flerte. Parece doce, mas é áspero. Caso alguém tenha ainda alguma dúvida, é preciso deixar bem claro:

Não sou legal, tô te dando mole.



Chico Soll,
Março, 2022